Setembro é o mês mundial de prevenção ao suicídio. Falar sobre esse tema nunca é simples, mas é urgente, especialmente quando pensamos na saúde mental perinatal, período que envolve a gestação e o primeiro ano após o parto.
Embora a maternidade seja culturalmente associada à felicidade e realização, a literatura científica mostra que esse é também um momento de grande vulnerabilidade psíquica. Quando não reconhecido ou tratado, esse sofrimento pode evoluir para quadros graves, incluindo risco de suicídio.
O suicídio como causa de mortalidade materna
Em países desenvolvidos, o suicídio figura entre as principais causas de morte materna durante a gestação e o puerpério.
Um estudo de base populacional realizado em Ontário (Canadá) revelou que 1 em cada 19 mortes maternas foi atribuída ao suicídio, representando 5,3% dos óbitos no período perinatal.
Dados semelhantes são relatados no Reino Unido e nos Estados Unidos, com taxas que variam de 2 a 3 por 100.000 nascidos vivos. No Brasil, apesar da escassez de estudos específicos, já se reconhece a necessidade urgente de ampliar a vigilância e o cuidado em saúde mental materna.
Sintomas depressivos no período perinatal
Os transtornos mentais mais associados ao risco de suicídio nesse período não são necessariamente os quadros psicóticos, mas principalmente os transtornos de humor e de ansiedade. Isso reforça a gravidade de sintomas muitas vezes desvalorizados.
Entre os sinais de alerta, destacam-se:
- Tristeza persistente e sensação de desesperança
- Ansiedade intensa e preocupações excessivas
- Sentimentos de culpa ou incapacidade
- Alterações importantes no sono e no apetite
- Dificuldade de vínculo com o bebê
- Pensamentos de morte ou de não querer viver
- Pensamentos de querer machucar o bebê
Esses sintomas não devem ser entendidos como “fraqueza” ou “natural do puerpério”, mas sim como manifestações clínicas que exigem atenção e cuidado especializado.
O desafio do silêncio e do estigma
Diversos fatores contribuem para que mulheres deixem de procurar ajuda: medo do julgamento, pressão social para corresponder ao ideal da “mãe perfeita”, e a crença de que demonstrar sofrimento significa ser uma mãe inadequada. Esse silêncio aumenta a vulnerabilidade.
Estudos também mostram que menos da metade das mulheres que morreram por suicídio no período perinatal tiveram contato recente com serviços de saúde mental, embora muitas tivessem consultas obstétricas ou pediátricas. Isso sugere que oportunidades de prevenção são perdidas.
Caminhos para o cuidado
A prevenção passa por:
- Triagem sistemática de sintomas depressivos e ansiosos durante o pré-natal e no acompanhamento puerperal
- Acesso facilitado a tratamento psicológico e psiquiátrico
- Apoio social e familiar, reconhecendo que a rede de suporte é parte fundamental do cuidado
- Formação dos profissionais de saúde para identificar sinais de sofrimento psíquico materno e encaminhar adequadamente
A saúde mental materna deve ser considerada prioridade em políticas públicas de saúde, tanto quanto a saúde física. Cuidar da mãe é também cuidar do bebê.
Neste Setembro Amarelo, é fundamental reforçar: pedir ajuda é um ato de coragem e pode salvar vidas. O silêncio não protege, mas a escuta e o acolhimento, sim.
Esse artigo foi escrito por: Dra. Mariana Mazzuia.
Conheça a Dra. Mariana Mazzuia: Neurocirurgiã Pediátrica

Dra. Mariana Mazzuia é médica neurocirurgiã pediátrica, esposa e mãe, com registro profissional CRM 11582/MS e RQE 6876. Atualmente, é doutoranda pela Faculdade de Medicina da USP (FM-USP), unindo experiência clínica e pesquisa acadêmica ao cuidado com as crianças.
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